sábado, 27 de março de 2010

Entrevista com o Maestro Agostinho Lourinho: Parte II

A continuação da entrevista anteriormente publicada. Apesar de alguns problemas técnicos, aqui se apresentam os elementos da animada conversa com o Maestro da Banda.

- Passará por um pouco pelo brio pessoal como é óbvio mas o facto de te teres tornado músico com carreira numa banda militar influencia a forma como diriges e impões respeito?
Influencia, influencia um pouco. Não vou dizer que não porque prende-se com a maneira de estar na vida um pouco. Mas sinto que é a minha pessoa natural, que é assim também. Gosto de estar sério no trabalho a sério. É claro que no lado da disciplina, se olharmos um pouco a nível da disciplina, claro que se calhar podem entrar aqui um pouco de influências militares, mas é acima de tudo a maneira de estar na vida e no trabalho, neste caso. As coisas têm de correr sempre bem.
-
Consideras que por vezes esse perfeccionismo pode ser mal interpretado, tendo em conta que se trata de uma Banda amadora?
Eu senti isso um pouco e até temi logo no início, quando fui para a frente da Banda, que por vezes fosse mal interpretado ou que as pessoas não ligassem muito àquilo que eu queria passar. Mas senti pouco a pouco, comecei a sentir e hoje tenho essa garantia. Modéstia à parte, não sei se é pelo facto de os músicos até terem algum respeito musical por mim e me considerem, e vejo que tudo aquilo que eu quero passar à Banda, que tudo aquilo – bom ou mau – neste caso bom, e é o que eu pretendo. Vejo que as pessoas querem receber aquilo que eu tenho para dar e então é com todo o gosto que tento passar.
-
Aperfeiçoar a regência passa por ser um dos teus objectivos enquanto maestro?
Sim, num futuro a médio/longo prazo. Mas passa, sinceramente. Porque eu tenho um prazer enorme em dirigir e eu considero-me instrumentista, mas muitas vezes dou por mim a pensar que a direcção me diz muito. Às vezes sinto-me mais maestro, mais director, do que propriamente instrumentista.

-
Concordas com as críticas de que a necessidade de requisitar reforços pode ser vista enquanto falta de confiança nos músicos da casa?
Não, claramente não. Esses comentários surgem de pessoas ignorantes à situação, ao meio musical, ao meio artístico, a todos esses níveis. Nós, quando convidamos, quando nos reforçamos com pessoas de fora para nos virem ajudar, é num sentido de equilíbrio musical. Só no sentido de equilíbrio musical. E isso é uma parte artística que eu explico às pessoas que fazem esses comentários, mas de certeza absoluta que elas não vão entender na mesma. Eu posso-lhes dizer na mesma que os nossos músicos também vão sair daqui, saem daqui para ir tocar às outras bandas, também vão reforçar as outras bandas. Isto é tudo para o mesmo.

-
Como vês então a actual parceria com as restantes bandas do concelho?

Eu não lhe chamo propriamente parceria. Estou a ver que ultimamente está-se a ganhar uma proximidade entre as bandas, nem que seja pelo simples facto de agora termos estado a ter este trabalho de conjunto na preparação deste concerto do 25 de Abril. Creio que a partir daqui pode surgir algo que venha colmatar a distância que existia entre as bandas.

- E para quando a participação num concurso de bandas como o de Vila Franca?

É sem dúvida um objectivo que quero concretizar, levar a Banda a participar num concurso nacional. O facto de ainda não se ter concretizado deve-se a questões não de qualidade artística da Banda mas sim a questões monetárias. Isto porque conheço bem a realidade do concurso e aqui a questão é mesmo apenas monetária.

- Há grandes objectivos ainda por concretizar? Que iniciativas poderias sugerir?

Sim, sem dúvida que há. Principalmente ao nível do funcionamento geral da Banda, inclusive da escola de música. Dinamizar mais a escola de música em relação a professores com qualidade garantida, mais actividades para os alunos de forma a motivá-los mais. Naturalmente que com uma boa escola só quem tem a ganhar é a Banda no seu geral. A nível de iniciativas conjuntas, é sem dúvida uma ideia a ter conta, visto que na terra existem outras colectividades de cariz cultural que podem proporcionar um trabalho agradável.